mil anos

[ao som de ‘Star’, de Colde]

Quando eu te conheci, você era um menino que nada entendia sobre a vida. Tinha um cabelo bom de fazer cafuné, e até hoje eu não sei explicar o que eu sentia ao fazer isso. Éramos jovens demais para saber o prazer que se sente ao tocar no outro.

Anos passaram, crescemos, não necessariamente amadurecemos, porém, na maior parte do tempo, caminhamos lado a lado. Você me tirava de situações e lugares horríveis ao segurar minha mão. Às vezes correndo, outras, caminhando lentamente, como quem contava passos ao se distanciar do caos.

Aprendi a ser protegida e proteger. Fui seu escudo, pequena no tamanho, grande na ousadia. Eu não tinha medo quando o importante era evitar que você sofresse. Aguentaria toda a dor no seu lugar e, como você sabe, já tinha suportado dores bem piores. E não eram físicas.

Mais anos se passaram, como estrelas infinitas em um universo imensurável, onde tudo flutua e tem seu próprio tempo. E todo tempo que tivemos disponível sofreu alguns desencontros, com reencontros predestinados. Do nada, eu sentia saudades e você aparecia. De repente, estávamos, depois de muito tempo, olhando um para o outro. Nestes momentos, eu traçava uma linha do tempo dentro dos seus olhos. Sorríamos. Nos abraçávamos. E tudo reacendia.

Certa vez, você me perguntou: “o que essa coisa tão forte que me une a você?”. Neste dia, ouvi a pergunta pelo telefone e sorri, imaginando que seria especial se você entendesse o que acontecia.

Não sei se nos cruzaremos novamente.

Pode não ser nessa vida, mas certamente será em outra.

Em todas, como tem sido.

Aryane Silva

Publicado por Aryane

Uma escritora, pegando carona na vida.

Deixe um comentário