Quando eu te conheci, você era um menino que nada entendia sobre a vida. Tinha um cabelo bom de fazer cafuné, e até hoje eu não sei explicar o que eu sentia ao fazer isso. Éramos jovens demais para saber o prazer que se sente ao tocar no outro.
Anos passaram, crescemos, não necessariamente amadurecemos, porém, na maior parte do tempo, caminhamos lado a lado. Você me tirava de situações e lugares horríveis ao segurar minha mão. Às vezes correndo, outras, caminhando lentamente, como quem contava passos ao se distanciar do caos.
Aprendi a ser protegida e proteger. Fui seu escudo, pequena no tamanho, grande na ousadia. Eu não tinha medo quando o importante era evitar que você sofresse. Aguentaria toda a dor no seu lugar e, como você sabe, já tinha suportado dores bem piores. E não eram físicas.
Mais anos se passaram, como estrelas infinitas em um universo imensurável, onde tudo flutua e tem seu próprio tempo. E todo tempo que tivemos disponível sofreu alguns desencontros, com reencontros predestinados. Do nada, eu sentia saudades e você aparecia. De repente, estávamos, depois de muito tempo, olhando um para o outro. Nestes momentos, eu traçava uma linha do tempo dentro dos seus olhos. Sorríamos. Nos abraçávamos. E tudo reacendia.
Certa vez, você me perguntou: “o que essa coisa tão forte que me une a você?”. Neste dia, ouvi a pergunta pelo telefone e sorri, imaginando que seria especial se você entendesse o que acontecia.
Não sei se nos cruzaremos novamente.
Pode não ser nessa vida, mas certamente será em outra.
Em todas, como tem sido.
Aryane Silva