Sobre o Rafa

Muitas pessoas têm me perguntado quem é o Rafa que eu já citei aqui em algumas crônicas. Algumas delas acham que ele não passa de um personagem criado por mim. Então terei o prazer de apresentá-lo decentemente (com a permissão de sua família).

O Rafael foi um namorado que eu tive em 2007. Poucas pessoas souberam porque parecia um sonho o que eu estava vivendo. E eu queria guardar aquele sonho para mim porque, às vezes, nem todos ficam felizes com a nossa alegria. Faz parte da vida.

O conheci por acaso, um acaso meio desagradável. Ele insistiu muito, disse, certa vez, que precisou de muita força para derrubar “o muro” que eu erguia. Quando nos conhecemos, eu estava em um momento em que queria ficar só, não acreditava em quase nada, agia no automático, não tinha autoestima e contava com a ajuda de algumas pessoas para sobreviver. Vivia vagueando por amores errados. Estava suspensa, como eu gosto de dizer. Então ele apareceu para me colocar nos eixos.

Ele era lindo, por dentro e por fora. Foi a primeira pessoa que conseguiu identificar que eu andava ansiosa demais e, por conta disso, passávamos horas intermináveis conversando em sua varanda, com vista para um mar bonito. Às vezes eu ficava irritada porque ele me tratava como pai, ao invés de namorado. Ele respondia: “preciso fazer isso, não tenho muito tempo”. E sorria, olhando para o outro lado. Era para eu ter desconfiado daquele sorriso antes.

Namoramos por quatro meses. Foi um amor imenso, cheio de coisas bonitas. Ele me ensinou a gostar do céu, do Sol, das estrelas. Me mostrou o amor que eu merecia, o cuidado do qual eu precisava. Dizia, ao me buscar de carro após uma jornada dupla de trabalho: “não aceite menos do que isso”. Era tudo tão perfeito, que eu tinha medo de que acabasse.

E acabou. O Rafa estava muito doente e morreu no mesmo ano. Nunca senti uma dor tão profunda. Parece que a vida perdeu a graça para mim. Passei meses com uma dor no estômago terrível. Na época, morava com uma amiga, no oitavo andar de um prédio. Eu sentava na varanda e chorava, escondida dela. Ela nunca soube. Ninguém sabia. Só o meu coração. Às vezes eu era tachada de preguiçosa, mas era só tristeza. Eu não tinha ânimo para quase nada. Meses depois, saí da casa dessa amiga e decidi escrever um livro sobre essa história, pois tinha medo de esquecer dele. Por um pedido da família, não publiquei até hoje, apesar de ter inserido uma crônica sobre ele no meu segundo livro publicado. No dia do lançamento desse livro, que eu escrevi em parceria com uma grande amiga, havia uma espécie de “apresentadora” na livraria, falando sobre o livro e, para a minha surpresa, deu ênfase justamente ao texto que escrevi sobre ele. Eu ri e pensei que talvez ele “estivesse ali”.

A minha saudade tem um nome comum, mas um significado especial. Se eu sou essa que escreve, ama o amanhecer, admira uma flor e vive a alegria das miudezas, devo a ele.

Aryane Silva

Publicado por Aryane

Uma escritora, pegando carona na vida.

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